sábado, 25 de fevereiro de 2012

Antes tarde do que nunca


 

 

 Sempre é tempo para transformar a vida e continuar a criar. Só é preciso uma mente disposta e determinada


por Eugênio Mussak

Costumamos ouvir a expressão "antes tarde do que nunca" em duas circunstâncias diferentes. A
primeira, mais freqüente, ocorre quando alguém se atrasa com um compromisso e finalmente cumpre com o esperado. Nesse caso, pronunciamos a frase com uma conotação que mistura uma sensação de alívio com uma censura irônica. Algo como: "Ufa! Antes tarde do que nunca. Mas, da próxima vez, vê se não demora tanto". A ênfase vai para a palavra "tarde", e os olhos de quem a pronuncia abrem-se em uma reprovação esbugalhada.
Quando isso acontece, o que está em discussão é o comportamento reprovável de não ter respeito pelo tempo dos outros, ou ainda o de cultivar o hábito de deixar tudo para a última hora e acabar se atrasando. É claro que todo mundo já se atrasou ou demorou para concluir um trabalho, mas para algumas pessoas isso já virou rotina. Dessa forma, dificilmente alguém construirá uma imagem de cidadão responsável.
A segunda maneira de usarmos a famosa frase é melhor, mais alegre e até edificante. Ocorre quando uma pessoa faz algo para o qual estaria muito velha para fazer, pelos padrões convencionais. Nesse caso pronunciamos a frase com ênfase no "nunca". O tom é outro. A expressão facial também. Há um meio sorriso desenhado nos lábios, ao mesmo tempo em que os olhos se fecham ligeiramente, como se a pessoa quisesse olhar para dentro de si mesma.
Eu mesmo já falei várias vezes essa frase, ainda que por meio de variações do tipo: "Puxa, que bom, sempre é melhor fazer tarde do que não fazer nunca!". Lembro-me, por exemplo, de meu velho amigo Sady. Ele era formado em farmácia e, até os anos 60, os farmacêuticos eram autorizados a conduzir a anestesia dos pacientes durante as cirurgias, pois não havia número suficiente de médicos anestesistas.
Só que, de um dia para o outro, os farmacêuticos foram proibidos de aplicar anestésicos durante cirurgias e o Sady perdeu sua profissão. O que poderia ele fazer, considerando que já tinha passado dos 60 anos, o que, na época, dava-lhe status de "idoso"? Que tal uma aposentadoriazinha? Para muitos seria a saída lógica. Mas não para o Sady. Sua opção: estudar medicina.

O tempo, a gente faz
Tive a sorte de ser colega do Sady. Ele não tinha a mesma facilidade para acompanhar as aulas, principalmente porque vinha todos os dias de ônibus desde sua cidade no Paraná, Ponta Grossa, para estudar em Curitiba, viajando cerca de 200 quilômetros diariamente. Mas, durante todos os anos de convivência, nunca o escutamos queixar-se das dificuldades, da viagem, do governo, da sorte. Nada disso. Ele não era homem dado a queixas e sim a superações. Quando cursamos a disciplina de técnica operatória, que incluía muitas cirurgias realizadas em animais, principalmente em cães, quem era o anestesista? O Sady, é claro. Ele anestesiava com arte e com um indisfarçável orgulho. E quer saber? Ele era muito bom no que fazia. Enquanto outros animais muitas vezes morriam, não por causa da cirurgia, mas por causa dos erros anestésicos, aqueles atendidos pelo experiente anestesista nunca tiveram nenhum problema.
Penso em meu colega toda vez que ouço alguém se queixar de que já está muito velho para um novo empreendimento, para voltar a estudar, para uma viagem longa, para mais um casamento, para ter um filho, ou para qualquer tipo de iniciativa que exija a tal "juventude", como se isso fosse uma espécie de qualificação profissional e não o que realmente é: um estado de espírito. Conheço maravilhosos "jovens" de 70 anos que continuam a produzir e amarrotados "velhos" de 30, sem disposição para nada.
Pois é, mas o "antes tarde do que nunca" não se aplica apenas a pessoas mais velhas, mas também àquelas que fazem coisas que são consideradas pela sociedade "fora do seu tempo": uma mulher que tem filhos depois dos 40 anos não é velha, mas ter filho nessa idade é considerado "fora do tempo ideal". Da mesma forma que fazer escola de circo aos 40 anos, ou um curso de dança com 50, ou resolver mudar de profissão quando se está no auge da carreira, ou fazer vestibular junto com seu filho mais novo.

Somos o que pensamos
Na realidade, tudo depende do modo como cada pessoa encara a vida. Ou seja, depende de uma postura, uma atitude. E a atitude começa na cabeça. Há gente que se considera velha, e há gente que parece estar sempre recomeçando, o que absolutamente não significa negar o que já foi feito. Portanto, depende da percepção que a pessoa tem de si mesma. Perceber significa "apoderar-se de uma imagem", "aprender pelos sentidos". E os sentidos variam muito entre os indivíduos. Duas pessoas olham para uma dificuldade. Uma vê um problema; a outra, uma oportunidade. Duas pessoas de mesma idade olham para si mesmas. Uma vê um jovem, a outra vê um velho. E, na maioria das vezes, a diferença está apenas na maneira de ver a si mesmo.
Há um capítulo do estudo da mente humana chamado "psicologia da consciência". Quem lhe deu início foi o médico americano William James (1842-1910), que, antes de estudar medicina, tentou ser um explorador da natureza, tendo estado inclusive na Amazônia. Depois dessa viagem, declarou que se sentia mais estimulado pelos mistérios do espírito humano do que pelas florestas tropicais.
De acordo com James, "todo pensamento tende a ser parte de uma consciência pessoal", o que significa que o raciocínio deriva das experiências e das percepções próprias de cada indivíduo. Inclusive as experiências e percepções sobre si mesmo, o que coloca o indivíduo fora de si, como se fosse um agente externo. E esse agente pode estar "envelhecido" e "derrotado" pelas experiências e pelos estímulos recebidos durante a vida. Ou o contrário disso.
Mas ele também afirmou que, "dentro de cada consciência pessoal, o pensamento está sempre se transformando". Boa notícia. Isso quer dizer que podemos ver o mesmo objeto, ouvir o mesmo som, saborear a mesma comida, e nossa consciência dessas percepções pode mudar a cada vez. Ou seja, cada um de nós pode aprimorar a maneira como se percebe, e isso está na dependência de sua própria vontade. E, claro, das atitudes que decorram dessa vontade. Assim, você estará "fora do tempo" apenas quando decidir.

Disposição para recriar
Tem gente que organiza seus pensamentos a partir de uma consciência construída sobre bases saudáveis e sempre positivas. Meu amigo Carlos Júlio, bem-sucedido executivo que consegue associar uma grande competência nos negócios com uma contagiante alegria de viver, relata uma experiência que diz muito sobre isso. Esteve recentemente visitando o escritor Peter Drucker, autor de obras clássicas sobre a dinâmica corporativa das empresas, em sua casa, na Califórnia, Estados Unidos. Ele conta que, no meio da conversa, o velho mestre disse que havia parado de dar aulas há 16 anos. No entanto, logo depois comunicou que teria que se retirar, pois precisava preparar uma aula que daria no dia seguinte pela manhã. Ao ser indagado sobre a contradição, Drucker explicou: ele tinha parado de dar aulas de administração de empresas, mas agora estava lecionando arte oriental.
Havia se apaixonado pelo tema há apenas cinco anos, mas, para ele, tempo suficiente para se transformar em uma autoridade, a ponto de virar professor. E o melhor: relatou ao atônito brasileiro que, quando ele tinha 20 anos (hoje está com 95), tomou a decisão de dedicar-se a estudar em profundidade um tema a cada cinco anos. Passados 70 anos, ele domina muito bem pelo menos 15 assuntos, além daqueles ligados à sua profissão de administrador. O último tema, arte oriental, começou a estudar com afinco aos quase 90 anos. Tarde? Pois se não fosse agora, seria nunca! O que é melhor?


Ser inteiro em cada ação
A História está repleta de figuras que realizaram grandes feitos em idades avançadas, pois tiveram a capacidade de perceber que não há limites para a determinação. Para elas, nunca é tarde, pois quem acha que é tarde acaba não fazendo nunca. O compositor italiano Giuseppe Verdi escreveu sua obra-prima, a ópera Falstaff, aos 80 anos, e ainda continuou escrevendo depois. O artista italiano Michelangelo aceitou a encomenda de pintar o interior da Capela Sistina aos 63 anos de idade. O filósofo grego Platão deu aulas em sua academia já octogenário. O ator e diretor inglês Charles Chaplin dirigiu o filme A Condessa de Hong Kong aos 78. E o arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer já está com 96 anos e continua debruçado na sua prancheta em Copacabana, produzindo maravilhas em concreto e vidro.
Há esses heróis que são eternos por suas obras e por suas atitudes perante a vida. E há também os heróis do cotidiano. Todos conhecemos alguém, uma pessoa comum, ou aparentemente comum, que não passará à posteridade pela literatura, mas que cumpre a missão maior de dar o exemplo de uma vida digna. Que tiveram coragem de buscar a felicidade em uma nova atividade, que não deixaram de arriscar novos rumos, independentemente da idade e do tempo.
O poeta português Fernando Pessoa, assinando em seu nome, ou no nome de um de seus inúmeros heterônimos, escreveu sobre as várias facetas da alma humana. Produziu muito sobre aqueles que cruzam a vida sem sonhos e que, por medo de errar, simplesmente deixam de fazer e de viver. Neste trecho de um poema, ele parece dar um conselho àqueles que se acham pequenos e pensam que já é tarde:
Para ser grande, sê inteiro
Nada teu exagera ou exclui
Sê todo em cada coisa
Põe quanto és no mínimo que fazes
Em cada lago a lua toda brilha
Porque alta vive...

fonte:http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/016/atitude/conteudo_238063.shtml?pagina=1




 "Porque a sabedoria serve de defesa, como de defesa serve o dinheiro; mas a excelência do conhecimento é que a sabedoria dá vida ao seu possuidor." Eclesiastes 7:12

 


 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O mercador de Pérolas



Jesus disse em Mateus 13 que o Reino de Deus era semelhante a um mercador de pérolas que estava procurando finas pérolas. E quando ele encontrou a pérola de grande valor, vendeu tudo o que possuía a fim de adquirí-la.

- Quero muito esta pérola, disse o mercador de pérolas ao vendedor, quanto custa?
- Bem, diz o joalheiro, ela é muito cara.
- Quanto?
- É uma soma considerável.
- O senhor acha que eu poderia comprá-la?
- Naturalmente. Qualquer pessoa pode comprá-la.
- Mas o senhor não disse que era muito cara?
- Disse.
- Quanto é, então?
- Tudo que você possui, responde o vendedor.
Ele pensa um pouco e depois diz:
- Está bem, eu a compro.
- Então vamos ver o que é que você possui. Vamos
anotar tudo aqui.
- Bem, tenho este tanto de dinheiro no banco.
- Ótimo, e o quê mais?
- Só isto. É tudo o que possuo.
- Nada mais?
- Bem, tenho alguns trocados no bolso.
- Quanto?
- Vejamos... trinta, quarenta, sessenta, oitenta centavos.
- Ótimo. O quê mais você tem?
- Nada mais. Isto é tudo.
- Onde você mora? indaga o vendedor.
- Em minha casa... é, eu tenho uma casa.
- Então a sua casa também entra no negócio, disse o vendedor e acrescentou a casa na lista.
- Vou ter que morar em minha barraca de camping.
- Você possui uma barraca? Ótimo, ela também entra no negócio. O quê mais?
- Bem, agora só me resta o carro para dormir.
- Ah, possui um carro?
- Dois.
- Os dois passam a ser meus. O quê mais?
- Bem, o senhor já está com meu dinheiro, minha casa, meus carros, minha barraca de camping. O quê mais quer?
- Você é só no mundo?
- Tenho esposa e dois filhos.
- Então a esposa e os filhos passam a ser meus também. O quê mais?
- Não me resta mais nada. Estou sozinho agora.
De repente o joalheiro exclama:
- Ah, quase me esqueci, você também entra no negócio. Tudo agora é meu - você, sua esposa, seus filhos, seu dinheiro, seus carros e sua barraca de camping.
E depois continua:
- Agora escute: deixarei que você fique com estas coisas por enquanto. Mas não se esqueça de que elas são minhas, assim como você também. E quando eu precisar de qualquer uma delas você terá que entregá-las, pois eu sou o proprietário.


Autor: Juan Carlos Ortiz
Fonte: O discípulo, Editora Betânia.




"Se alguém quer vir após mim,
a si mesmo se negue,
tome a sua cruz e siga-me."
Mateus 16.24
 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Andar lado a lado




Nos tempos modernos, a vida é muito agitada. Tempo tornou-se um artigo de luxo não somente para altos executivos e pessoas com dois empregos e família para cuidar. As demandas individuais têm crescido para todos. Quanto maior o acesso à informação, maior é sua necessidade.
Imagine agora a cena de dois amigos de longa data que se encontram depois de muito tempo e querem colocar o assunto em dia. Um deles está em meio a mais um dos seus atribulados dias de trabalho quando o outro vem visita-lo (depois de marcar uma hora na agenda, é claro). Fato é que, ainda que o encontro tivesse sido previamente arranjado, o anfitrião dividia sua atenção entre seu velho amigo e as várias interrupções  de seu ambiente cotidiano: telefonemas, questionamentos de seus colegas de trabalho, mensagens de sua secretária, etc.
Em meio a toda essa agitação, ambos resolvem sair para almoçar buscando encontrar maior tranquilidade para conversar. Em vão. O amigo ocupado logo toma a dianteira enquanto fala ao celular. Na tentativa de acompanha-lo, mas não conhecendo o que se passa em sua cabeça, o amigo passa a sua frente e nessa alternância vão até o restaurante.
Entre a escolha do prato e a rápida degustação, eles trocam informações leves e superficiais sobre suas vidas nos últimos anos. Relembram os bons tempos e expressam o desejo de que outras oportunidades de encontro venham a se concretizar. De preferência, em um dia mais tranquilo...
Enfim, o encontro tão esperado se passa e a grande expectativa, reatar os laços perdidos com o tempo, não é realizada.
Agora, coloque-se na posição do amigo visitado (creio que não seja muito difícil). Talvez você troque a secretário pelo filho chorando e os telefonemas de negócios pelos credores em sua porta. Mas, no final, dá no mesmo. Experimente então colocar o Senhor no lugar do amigo que visita. Afinal, é ele quem diz Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.” Apocalipse 3:20. E é Ele quem quer nos revelar grandes coisas e se tornar nosso amigo.

 Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer. “ João 15:15
E então, os acontecimentos mudam ou são os mesmo? É necessário que o Senhor marque hora e lugar para falar conosco e nos levar a refletir? Teimamos nós em manter a inconstância no caminhar? Dividimos nossa atenção com as inúmeras circunstâncias quando ele está calmamente esperando abrirmos nosso coração para ouvi-Lo?
Quem somos nós quando tudo passa e aparentemente resolvemos nossos problemas? Onde está nossa alma? Como está nossa consciência? Nossos laços com o nosso maior amigo estão restaurados ou continuam quebrados esperando uma brecha na agenda para, talvez, serem recuperados?
Os amigos só conseguem andar juntos, no mesmo compasso, quando  andam lado a lado! Quando dão-se os braços e compartilham as situações. Quando ouvem os conselhos e se permitem ouvir os problemas para aconselhar. Os amigos só andam juntos quando param de olhar para si mesmos e olham para o outro. O Senhor só será nosso amigo quando deixarmos de pensar apenas nos nossos planos para ouvir os planos ainda mais altos que Ele sonhou para nós!

“Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.”  Isaías 55.9

Ana Carolina